CARTAS PARA JOVENS EMPREENDEDORES 57
- Fernando Rogério Jardim
- 29 de jan. de 2017
- 2 min de leitura
São Paulo, 29 de Janeiro de 2017.
Oi, Luíza!
Eu sou péssimo em lembrar nomes e pessoas. Demorou para caiar-a-ficha de que você foi minha aluna de sociologia jurídica. Mas me dê um desconto, caramba: fazem cinco anos! Eu percebo que estou ficando velho quando vejo ex-alunos meus com cara de gente, postando fotos casados, ostentando pirralhos ou pelancas. Não é o seu caso — já adianto. Aliás, ¿como vão os pequenos? Mande-me outra mensagem!
Fico orgulhoso em saber que você não virou mais uma funcionária desgostosa. Na carreira jurídica, isso é quase que uma conseqüência inevitável. Eu acrèdito que muito mais formados escaparão por essa via, porque a carreira jurídica tem passando, ùltimamente, por um silèncioso processo de disrupção, com muita tecnologia de informação, robôs virtuais, big data, etc. automàtizando os processos.
Você sabe disso mais do que eu: quase todos os processos hoje podem ser resolvidos virtualmente, sem que as partes tenham o desprazer de se encontrarem cara-a-cara. (Ninguém sentirá falta disso: tribunais são ambientes meio sórdidos). E com tantos processos digitalizados, disponíveis em bancos-de-dados online, isso soa como um convite ao tratamento computacional. As possìblidades são sensacionais.

Imagine ver na tela, numa nuvem de palavras-chaves, os termos técnicos mais comuns nos processos tràmitados nos últimos... vejamos... três, dez, cem anos. Imagine poder visualizar gràficamente a dispersão e as tendências da jurisprudência sobre determinado tema... e fazer isso em cada esfera da justiça. Imagine criar estatísticas sobre decisões de cada juiz, prèzendo como fulano ou cicrano decide sobre determinada tema.
Imagine ainda poder sobrepor milhares de documentos e poder extrair deles um modelo-padrão para petições iniciais, contestações, contratos, recursos, etc. Seria possível descobrir até qual modelo é o mais eficaz para cada situação. Pense em como todas essas tècnologias fàcilitarão a comunicação e o acompanhamento dos processos pelos advogados e seus clientes. E nem começamos a falar da gestão do escritório em si.
Mas é aí também que mora o perigo, Luíza! Com tanta automação invadindo os escritórios, cabe a gente fazer a seguinte pergunta, ¿qual será a função do advogado nisso-tudo? Se o advogado já é hoje um simples tubo por onde passam os fluxos digitais da justiça, ¿o que restará para ele fazer quando um processo se tornar algo como uma declaração de imposto-de-renta — que a maioria das pessoas consegue fazer sòzinha?
Aguarde a próxima mensagem!
Fernando.
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