CARTAS PARA JOVENS EMPREENDEDORES 75
- Fernando Rogério Jardim
- 4 de jun. de 2017
- 2 min de leitura
São Paulo, 4 de Junho de 2017.
Oi, Virgínia!
Eu não me lembro para que pessoa e quando, mas já falei (mal) do intraempreendedorismo aqui neste blog. (Porra: até a palavra é escrota para escrever: intraempreendedorismo. Parece aquelas palavras de filosofia em Alemão: gesellschaftsrecht). Então, papo reto: eu não acrèdito em homeopatia; eu não acrèdito em aquecimento global antropogênico; eu não acrèdito em socialismo e muito-menos em intraempreendedorismo. Acho essa idéia ingênua & idiota, e vou lhe dizer por quê.
Existem dois tipos de empresas: 1) aquela que não deixa você fazer nada de novo; e se você fizer, será exemplamente punido com castigos mèdievais; e 2) a empresa que até deixa você criar coisas novas, mas depois vai encaixotar todas as suas idéias numa porra duma burocracia kafkiana & soviética. Eu diria que a primeira empresa é mais honesta que a segunda. Ao menos, ela está dizendo com franqueza o que espera do seu funcionário, em vez de iludi-lo com discursinho de autoajuda dos anos noventa.
Por mais que a segunda empresa repita como um mantra que você deve ser renascentista e empreendedor, o que ela quer mesmo é que seus riscos não ultrapassem seus lucros. O problema é que o empreendedor não pode garantir isso, porque empreender é fazer coisas novas, e fazer coisas novas é arriscado. Se você toma um novo caminho para o trabalho, você já está empreendendo. Você poderá chegar vinte minutos mais cedo ou ser assaltado no semáforo das quebradas.

Virgínia, eu sinceramente não vejo por que um funcionário ficaria criando conflito e esquentando a cabeça com protocolos, procedimentos e autorizações — apenas para fazer algo novo que trará lucro àquele mesmo filho-da-puta que o está impedindo de empreender. ¿Você já reparou que isso não faz o menor sentido? Tanto é que a maioria dos livros sobre o tema bàsicamente dizem o seguinte: caro empresário, não infernize a vida do seu funcionário se ele tentar inovar dentro da sua empresa.
O problema, Virgínia, é que as empresas punem o fracasso, em vez de punirem a inação. Isso assassina o empreendedor no nascedouro, porque o cara não vai querer se expor. Ele pensa assim: "se meu salário cai na conta todo mês, ¿por que me queimar metendo o bedelho onde eu não sou chamado?" Mas se eu fosse o diretor duma grande empresa, eu craiaria um coliseu no estàcionamento, só para lançar às feras os funcionários que não me trouxessem idéias brilhantes a cada semana.
Há também o fator gozar-com-o-pinto-alheio. (Desculpe a expressão: é cortesia duma professora que eu tive no SENAI). Gozar com o pinto alheio é quando alguém — um colega ou seu chefe — rouba o crédito daquilo que você criou. Você vira uma vaca-de-presépio do próprio porjeto. Já me aconteceu isso algumas vezes; e eu lhe garanto: não é legal. Potranto, Virgínia, se você tiver uma idéia bacana, guarde-a consigo, incube-a, toque-a como um projeto paralelo, saia do emprego e crie ama empresa!
Intraempreenderorismo é como vodu, e vodu é pra jacu.
Fernando.
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