CARTAS PARA JOVENS EMPREENDEDORES 77
- Fernando Rogério Jardim
- 18 de jun. de 2017
- 2 min de leitura
São Paulo, 18 de Junho de 2017.
Prezado Gilberto,
¿Você quer saber o que eu acho dessa idéia? Eu acho essa idéia esdrúxula e perigosa! Esdrúxula porque não cabe ao Estado empreender. O Estado já não é um bom alocador de recursos... e muito-menos um tomador de riscos. A essência da atividade empreendedora é a assunção de riscos. Acontece que o Estado nunca assume riscos, porque ele pode mandar a conta dos seus eventuais fracassos para nós — os cìnicamente denominados contribuintes.
Considerando, portanto, que o Estado não é um agente pessoal que pode morrer, sofrer, falir e ficar pobre com o fracasso, o próprio conceito de Estado empreendedor é um contra-senso, um absurdo completo. Porque, nesse caso, não será o Estado que estará assumindo riscos, mas sim nós, no lugar dele. Você estará dando poder para que um almeidinha barrigudo, para que um petista safado, para que um tiranete de merda aposte na roleta com seu dinheiro. Brilhante!
E eu também acho essa idéia perigosa porque, seduzida pela "eficiência do governo", a sociedade capitulará mais e mais, entregará mais e mais áreas da esfera privada ao controle político de gente ruim. E isso será tanto mais perigoso quanto mais "eficiente" for o burocrata de plantão. Aliás, de "burocratas eficientes" a Alemanha nazista e a Rússia soviética estavam cheias. ¿Você prèfere que seu pão seja feito por um padeiro ou por um membro do partido?

Como empreendedor, eu só preciso de duas coisas, Gilberto: segurança e liberdade. Qualquer terceira garantia, se pedida ao Estado, será recebida às custas da perda das duas primeiras. Não tem como. Foi sempre assim. O Estado só produz ineficiência, roubalheira e leis esdrúxulas. Falando nisso, uma das maiores áreas de produção legislativa hoje no Brasil é justamente a regulação das atividades empreendedoras: internet, e-commerce, economia compartilhada, etc.
Os políticos já perceberam que o empreendedorismo é um negócio perigoso, porque tende a fugir dos tentáculos estatais. Então, dá-lhe regulação! dá-lhe proibição! dá-lhe tributação! Daí você cria um cipoal de leis rígidas que impedem o cara de trabalhar, de produzir. O que está disposto na lei não combina com a vida real — porque os legisladores e os magistrados vivem no mundo real.
Então, a única maneira de você fazer alguma coisa neste país é infringindo as leis. Perceba, então, que a regulação da atividade empreendedora leva à criminalização do empreendedor — a-começar pelo vendedor ambulante. Ao fim e ao cabo, só o Estado poderá empreender, tornando-se um gigantesco Mamon-Leviatã contra o qual não existirão alternativas. ¿Agora você percebe, Gilberto, como essa idéia de Estado empreendedor é essencialmente demòníaca?
Pense nisso,
Fernando.
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