CARTAS PARA JOVENS EMPREENDEDORES 78
- Fernando Rogério Jardim
- 25 de jun. de 2017
- 2 min de leitura
São Paulo, 25 de Junho de 2017.
Querida Beatriz,
Há quanto tempo! O empreendedor e como um cara que vai para a guerra. Quando ele fica muito tempo sem mandar notícias, a gente já supõe que ele morreu (no nosso caso, faliu). Fico feliz em saber que, apesar dos acidentes de percurso, vocês estão funcionando e sobrevivendo à crise. Caso lhe sirva de consolo, aproveite a crise para tornar seu negócio mais enxuto e criativo. Mas vamos ao conteúdo da sua mensagem.
Uma das coisas mais legais de se abrir a própria empresa é poder, com ela, criar "um novo céu e uma nova terra", quer dizer, provar que é possível gerir uma equipe sem vigilância e paranóia; que é possível oferecer um serviço sem cinismo e tratando o consumidor èticamente; que é possível ser competente com bom-humor; e que é possível saber o que é preciso ser feito sem a maldita burocracia.
O problema é que, quando a gente tem uma experiência profissional anterior, a gente tende a levar para a própria empresa os vícios da antiga. Na gíria polìcial, eles chamam isso de "cheiro de cadeia": o detento fica encarcerado com maloqueiros e passa a falar e agir como um. No nosso caso, ficamos tanto tempo trabalhando para gente tosca, que levamos conosco a babaquice congênita e a canalhice adquirida.

E pelos nomes de babaquice e canalhice eu chamo tudo-aquilo que não agrega valor ao cliente nem àgiliza seu ambiente-de-trabalho. Segue a lista. Hierarquia — reduza, achate, horizontalize e simplifique. Hierarquia só tem as seguintes ùtilidades: saber quem é responsável pelo quê, quem deverá ser cobrado por qual trabalho, a quem reportar quando acontecer alguma merda. O resto é vaidade e egotrip.
Burocracia — elimine-a totalmente. Se você precisa dum fòrmulário de autorização para fazer a coisa certa, então tudo está errado. E não será um fòrmulário de autorização que o livrará de fazer a coisa errada. A burocracia parte do prèssuposto de que todos os dias você enfrentará os mesmos problemas, e eles já virão rotulados com o nome do departamento especializado nele. Sobretudo numa startup, isso é falso!
Vigilância e controle — nem pense nisso. Dizem que só os paranóicos sobrevivem. Porém, difícil mesmo é sobreviver no meio de gente paranóica. Se você não confia nas pessoas com quem trabalha, demita-as; mas não gaste seu dinheiro com câmeras, sensores de presença, agentes virtuais, espiões, etc. Isso cria cizânia no ambiente-de-trabalho, porque passa a mensagem tácita de que você e seus colegas são inimigos.
É isso. Sucesso!
Fernando.
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