CARTAS PARA JOVENS EMPREENDEDORES 66
- Fernando Rogério Jardim
- 2 de abr. de 2017
- 2 min de leitura
São Paulo, 2 de Abril de 2017.
Fala, Caio!
Não, cara... eu não fui ao evento. Espero não ter perdido muita coisa, exceto o de sempre: futurólogos prèvendo o apocalipse robótico, investidores posando de bacanas (embora não tenham na conta o que um periquito tem no cu), moleques trêmulos apresentando seus indefectíveis aplicativos com pitchs mal-ensaiados, palestras de empreendedores-ostentação, slides bregas, decoração mal-imitada do Campus do Google, etc. Falando assim, parece que eu fui, mas não fui.
Eventos são sempre um porre de uísque paraguaio! A-menos que você queira ir neles para distribuir cartões-de-visita como quem distribui confetes na Sapucaí, o melhor mesmo é saber de tudo depois, pelas redes sociais. Há, inclusive, um mercado com passado obscuro e futuro próspero: o tititi empreendedor. Eu acho triste isso, porque é um sinal de que o meio das startups não está livre de posers. Os posers dominarão o mundo e farão dos humanos suas putinhas. Anote isso!
Eu já estou calejado, Caio! Já entrei em tanta roubada com passagem, bagagem, hotel e afins, que hoje eu só vou a esses eventos se me pagarem... ou se eu tiver um contato muito forte para fazer com alguém muito específico. ¿Paga-se um preço por isso? — Paga-se! Se você não é visto, você não é lembrado; e se você não é lembrado, você fica fora do circuito onde as coisas acontecem. Você também diminui sua serendipidade e fica menos exposto a idéias novas e a gente legal.

Paciência. Quando você é extrovertido, enturmado e galeroso, você aproveita mais desses eventos, porque não se trava ao falar com as pessoas. (Conheço gente que até montou empresa durante um eventos. Aliás, tem um formato chamado startup weekend justamente voltado para isso). Mas quando você é mais tímido e retraído — como é o meu caso --, aproveita-se menos. Eu sei que isso é bobagem e que as pessoas estão ali prèdispostas ao diálogo. Mas... I did it my way.
Além-do-mais, viajar é caro, chato... e as satisfações que você tem não cobrem as chateações que você vive. Sinto falta da época em que esses eventos de empreendorismo e tecnologia eram todos aqui em São Paulo — geralmente patrocinados pela Fiesp ou pelo Sebrae. Ninguém ralmente importante nesse meio precisaria viajar até aonde o Judas perdeu as pregas. Tudo e todos estariam próximos. ¿Isso é babaca? — É sim. ¿Isso é elitista? — É sim. Foda-se!
Agora os caras marcam eventos no meio do nada, porque como o povo de startup é meio quebrado de dinheiro, se você marcar essas coisas aqui no sul-maravilha, ninguém vem, porque é muito caro. Então todo-mundo precisa perder doze horas da sua miserável existência viajando, para ir falar num evento durante vinte minutos... e fazer networking nos intervalos das atrações, quando sobra tempo. Da mesma forma que muita reunião poderia ser um e-mail, muito evento poderia ser um hangout.
Desculpe o mal-humor.
Fernando
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