CARTAS PARA JOVENS EMPREENDEDORES 65
- Fernando Rogério Jardim
- 26 de mar. de 2017
- 3 min de leitura
São Paulo, 26 de Março de 2017.
Prezada Andressa,
Eu vou precisar de mais detalhes. Sua carta não me deu insumos suficientes para uma estratégia adequada. Tudo o que sei é que você prètente criar uma casa de repouso para idosos que será, ao mesmo tempo, um hotel para animais de estimação. A primeira coisa que me vem à mente é que, dependendo do quadro clínico dos atendidos, eles não poderão chegar nem perto de animais, por conta das alergias e zoonoses, com riscos de infecção por fungos e bactérias. Alguns idosos passam por tratamentos que dèbilitam a imunidade, tornando-os mais pròpensos a infecções oportunistas. Eu não sou especialista esse assunto. Mas como você é biomética, acho que sabe o que está fazendo.
É uma idéia é interessante, engenhosa... Precisaria apenas ser melhor divulgada e "comprada" pelo público. Um press release, uma matéria paga no rádio (idosos ouvem muito rádio) ou uma cobertura da imprensa seriam ótimas para você. Eu acho que isso geraria notícia — pelo caráter inusitado do negócio. No início, eu apostaria em estratégias de marketing-de-guerrilha... Pois bem. Eis tudo o que eu posso lhe dizer no momento, com base nos dados que você me passou. Se eu não souber em que estágio você se encontra nesse projeto, não poderei lhe orientar muito além disso. Óbvio: cada caso é um caso. E a informação mais crítica para mim é o nível de maturidade do empreendedor.
O empreendedor pode estar em cinco estágios diferentes: vontade, sacada, projeto, negócio ou empresa. Igualzinho aos Pokémons, os empreendedores também evoluem. Se você tem apenas uma vontade (abandonar o emprego, deixar um legado, ter autonomia no trabalho, dar vazão aos seus próprios talentos, etc.), um bom livro de autoajuda, com bastantes figurinhas, ou aquelas palestras de motivação onde cara pula, grita, chora no palco e cria uma seita ao redor de-si bastarão para você. Uma vontade, quando é apenas uma vontade, precisa ser alimentada com argumentos racionais. Se este é o seu caso, eu não posso lhe oferecer mais ajuda além daquela que você já encontra no blog StartAspas.

Agora, se o que você tem é uma idéia, uma sacada de negócio, você precisa làpidar essa coisa, submeter suas hipóteses a vàlidação, estudar seus elementos, considerar tudo que ela implica. O que eu lhe ìndico, então, são ferramentas de criatividade. É difícil explicá-las todas aqui. (Aliás, eu tenho um curso sobre isso). Um pacote de técnicas bem famoso entre as startups é o design thinking. (Eu também tenho um curso sobre isso!). Bàsicamente, você precisará mergulhar na pele do seu cliente, entender suas dores, extrair delas as informações necessárias à criação dum antídoto e, por fim, matèrializá-lo num protótipo mínimo-viável. Mas aqui você ainda está brincando de empreender.
Na fase seguinte, você inicia o projeto. O projeto nada-mais é que uma vontade com foco e uma idéia com prazo. Doravante, você adicionará à sacada todos os demais elementos que a tornarão viável como negócio: parceiros estratégicos, canais-de-vendas, estrutura de custos, fontes de renda, processos e recursos, etc. Claro: quanto mais vàriáveis você adicionar ao sistema, maiores serão as chances de fracasso. Para essa fase, eu lhe aconselho usar o model canvas. (Não perca seu tempo com planos-de-negócio que ninguém lerá). Quando você puder esse projeto para rodar, então você terá um negócio. Aí a brincadeira fica séria, porque começam a aparecer as "goteiras" logísticas e contábeis do projeto.
Nessa fase, você começará a descobrir — ó surpresa das surpresas! — que seus fornecedores dão o cano, que seus clientes não pagam o que devem, que as contas não fecham, que seu produto ou serviço não funciona como o esperado e que o Estado será seu sócio para sempre — e a-contragosto. Quanto todos esses pepinos estiverem mais-ou-menos resolvidos e o dinheiro começar a gotejar na sua conta, você enfim terá uma empresa. Chegou a hora de formalizá-la jurìdicamente (eu não a aconselho fazer isso cedo demais). Então veja: cada fase tem seu desafio próprio. A única certeza, Andressa, é que as coisas ficarão mais difíceis conforme você avançar, porque seu sonho não dependerá só de você.
Sucesso!
Fernando.
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